A diversidade de esforços necessários para atingir um futuro sustentável se reflete na nova parceria firmada pelo ISI Biomassa (Instituto Senai de Inovação em Biomassa), localizado em Três Lagoas (MS). Aliando-se à empresa Petrogal Brasil (joint venture Galp e Sinopec) e ao Laboratório de Intensificação de Processos e Catálise da UFRJ (LIPCAT), o projeto Tupã busca converter gases do efeito estufa, cujo acúmulo excessivo é responsável pelo aquecimento global, utilizando no processo, exclusivamente, fontes de energia elétrica renovável.
Para o gerente de Gestão e Negócios do ISI Biomassa, João Gabriel Marini, estar no projeto Tupã só reforça a relevância da instituição no cenário nacional. “A Petrogal está entre as petrolíferas mais sustentáveis do planeta e projetos como esse reforçam ainda mais esta condição”, ressaltou.
Desenvolver uma tecnologia inovadora capaz de converter gases, como o dióxido de carbono (CO2) e o metano (CH4), significa encontrar uma alternativa ambientalmente correta em processos de alta relevância econômica mundial, como a produção de petróleo e gás.
De acordo com o diretor do LIPCAT- UFRJ e coordenador do projeto Tupã, João Monnerat, o que o torna único num contexto mundial é a filosofia de modularidade e flexibilidade da solução.
“As fontes de emissão de CO2 por definição são distribuídas geograficamente. Dessa forma desenvolver uma solução que utiliza apenas energia elétrica, seja agnóstica quanto a fonte de emissão e seja viável de operar em diferentes escalas é preponderante para atacar não só o impacto relacionas as emissões em si, mas também o transporte. São exatamente esses os principais conceitos do projeto TUPÃ, que o torna único”.
A pesquisadora Vivian Vazquez Thyssen, responsável pelo projeto no ISI Biomassa, explica que a inovação desenvolvida no projeto pode ainda atender diversos setores da indústria.
“O projeto Tupã oferece uma maneira de transformar gases do efeito estufa em combustíveis e químicos renováveis, contribuindo para manutenção do meio ambiente e gerando novos produtos. É um passo importante em direção a um futuro mais verde e sustentável por meio de processos e tecnologias inovadoras”, ressaltou.
A transformação dos gases permite a criação de combustíveis e produtos químicos e, portanto, a substituição de produtos derivados de fontes não renováveis. Isso ajuda a diminuir a pressão sobre os recursos finitos e a alcançar a independência do petróleo e seus derivados. A ideia é que a tecnologia seja utilizada com diferentes tipos de gases, oriundos de fontes diversas, além de possibilitar a criação de uma plataforma de combustíveis e produtos químicos renováveis.
Segundo Thyssen, a conversão dos gases para os renováveis acontece usando uma tecnologia composta por um eletrolisador integrado a um reator de microcanais, que trabalha com energias limpas como a solar e a eólica. Portanto, a própria pesquisa utiliza elementos não poluentes para ser realizada.
O eletrolisador é, comumente, um dispositivo que permite produzir hidrogênio por meio de um processo químico (eletrólise) capaz de quebrar as moléculas da água com o uso de eletricidade. No caso do eletrolisador do ISI Biomassa, será gerado uma mistura chamada gás de síntese a partir da quebra das moléculas dos gases do efeito estufa utilizando energia renovável.
Esforços coletivos para um outro futuro
Utilizando a cláusula de PDI da ANP (Agência Nacional do Petróleo, Gás Natural e Biocombustíveis) e Embrapii (Empresa Brasileira de Pesquisa e Inovação Industrial), o projeto Tupã une diferentes segmentos em prol de iniciativas mais comprometidas com a demanda do mercado global em relação as práticas ambientais.
Juntos, a Petrogal Brasil, o LIPCAT-UFRJ e o ISI Biomassa, reúnem diferentes habilidades, desempenhando um papel importante para trazer novas ideias para o campo da energia, gás, óleo e do meio ambiente.
A Galp, grupo de empresas portuguesas no setor de energia, é detentora da Petrogal e da Gás de Portugal, operando um mix de energias focado na sustentabilidade e na eficiência. O grupo está presente em 10 países e exporta para mais de 50, buscando assumir um papel ativo e próximo no desenvolvimento sustentável local, promovendo o bem-estar das pessoas e das populações através de projetos sociais que visem, como focos principais, o acesso à energia e à educação.
Já o ISI Biomassa atua oferecendo os pesquisadores e laboratórios da plataforma de descarbonização do instituto, sendo responsável pela implementação, otimização e validação da tecnologia protótipo de bancada para a conversão dos gases de CO2 e CH4 em um gás de síntese (syngas). “É como uma mistura de ciência e engenharia para fazer essa transformação de forma eficiente e com energia renovável”, explica Vivian.
No projeto, o LIPCAT atua como especialista do processo de Fischer-Tropsch. Eles estão trabalhando na parte da química que faz a transformação do syngas em combustíveis e produtos químicos renováveis. Segundo a pesquisadora, é como se eles estivessem colocando a receita química certa para que as coisas funcionem. Além disso são responsáveis pela integração final do sistema protótipo.
Projeto alinhado com iniciativas globais de desenvolvimento
Sendo uma das maiores conquistas do projeto, a redução das emissões de gases prejudiciais, como o CO2 e o CH4, está em sintonia com esforços mundiais para diminuir o impacto do aquecimento global, entre eles os Objetivos de Desenvolvimento Sustentável (ODS) da ONU (Organização das Nações Unidas) e os compromissos da Conferência das Partes (COP) órgão supremo da Convenção-Quadro das Nações Unidas sobre Mudança do Clima.
No setor do biocombustível, o projeto pode desempenhar um papel positivo no programa RenovaBio, pois, contribui para a redução de emissões ao longo do ciclo de produção, além de ir ao encontro com ações ambientais, sociais e de governança, do inglês Environmental, Social, and Governance (ESG), tão relevantes para a atualidade.